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Convento de S. Domingos-o-Velho

Updated: Aug 23, 2020



O Mosteiro de São Domingos foi construído antes de 1226, ou mesmo antes de 1223, na ribeira direita do rio Mondego, que lava a cidade, no plano onde hoje [séc. XVIII] vemos assentada grande parte da povoação da ponte para baixo. Apesar de haver a possibilidade da fundação do cenóbio coimbrão ter sido ainda anterior a 1223, dificilmente tal terá acontecido devido às difíceis relações de D. Afonso II com Fr. Soeiro Gomes, razão por que os primeiros anos do reinado de D. Sancho II (1223-1248) terão sido certamente mais favoráveis àquela instalação. No entanto, o momento exacto permanece desconhecido.

A escolha reacaiu sobre um local onde “havia em tempos antigos pomares a que chamavam o Figueiral onde chamam Figueira Velha, por estar perto da cidade e do rio que corria fundo e alcantilado”. A instalação foi patrocinada por duas infantas, filhas de D. Sancho I. D. Teresa comprou e doou os terrenos e por conta de D. Banca ficou a construção que deverá ter sido breve, sendo seguro que em 1227 já existia vida conventual com o respectivo Prior e Superior.

A escolha do local recaiu na zona da Figueira Velha não obstante ter acontecido uma grande cheia ainda no reinado de D. Sancho I, possivelmente em 1199. De facto, D. José de Cristo no seu Fragmentos das Chronicas de Santa Cruz de Coimbra refere uma inundação no reinado de D. Sancho I (1185-1211): as maravilhas que Deos n. S. nesta materea obrou, quasi todas se perderão cõ o diluvio deste mostr.º que chegou aos papeis do Cartoreo, as que aponteo acazo forão escritas por ocasião de outras historeas eu só escaparão, como em outra archa de Noe. Este successo delRei D. Sancho anda escrito em um livro de mão, logo no principio, o qual tras a historia dos Genizes, conservasse oje entre a livraria que ficou de S. Theotonio, que são os livros que escaparão, porque como o diluveo (chamamoslhe asi por ser huma inundacão notável) foi mui repentino, estando o ar sereno, sobreveio huma chuva tão notável que paresse se tornavam abrir as cataratas do Ceo. Em menos de huma hora se encheo o Ribeiro que passa por baixo deste mosteiro, e não cabendo agoa na mai redundou de sorte que em menos de huma hora se alagou todo o mosteiro e como dormitório era na Claustra ahi tambem estavão as mais oficinas, e o Cartoreo tambem, como a innundacão foi tão acelerada não se pode acodir a tudo e se se saluou alguma couza foi o que mais estaua a uista como era esta liuraria [...].

Mas as infantas terão partido do princípio que se tinha tratado de uma ocorrência singular e não a valorizaram e a escolha acabou por ser pouco feliz, por causa das várias cheias que nos séculos seguintes foram sempre afectando o convento. Dessas cheias falaremos num próximo “post”, neste blogue. Assim, a situação ter-se-á tornado insustentável e a mudança iniciou-se por volta de 1540, estendendo-se até 1546.

Em 15 de Dezembro de 1540, Sebastião da Fonseca escreve a D. João III, dando conta das condições em que seria mais favorável edificar pera a mudança do Mosteyro de Sam Domingos desta cidade. Entendia que seria mais seguro e proveito da casa e obra correr este edeficio mais por diamte pera cima comtra Santa Cruz […] porque quanto mais se esta obra chega para cima contra a cidade e contra Santa Cruz tanto mais se arreda d’agoa e se poem no mais seguro e enxuto que he a causa por que V. A. faz esta mudança. Em 30 de Janeiro de 1541, o oficial régio volta a escrever a D. João III sobre os terrenos para a instalação do Convento de São Domingos, referindo que V. A. tem mandado que eu fezese hua parede ao longo do rio ate o Arnado. Dessa forma o rio parecia chegar, ou poder chegar, à época e talvez só sazonalmente, inclusivamente, até ao limite dos terrenos de S. Domingos-o-Novo. Aliás, em 1663, é referido um imposto, cuja receita seria aplicada no entulhamento das lagoas que se formavam na Baixa e Arnado depois das cheias do rio e, ao contrário da vereação, o povo recusou, dizendo que sempre existiram lagoas no Mondego no tempo dos seus antepassados.

O Colégio da Ordem do Mosteiro de São Domingos (Colégio de S. Tomás de Aquino) foi fundado em Lisboa para frequência da universidade nesta cidade, onde esteve até ser passado para o Mosteiro da Batalha em 1538. No entanto, em 1539, entende-se que seria conveniente vir para Coimbra. De início terá ficado combinado que a morada dos colegiais seria no Convento Velho mas já lá se vivia com grande risco por causa das enchentes do Mondego. Apesar do que é referido na Cronica de Frei Luís Cacegas, sabe-se, através de um documento de 1732, existente na Torre do Tombo, que os colegiais permaneceram em Coimbra, num dormitório cuja localizaçao não era especificada. Refere-se aí que, na década de quarenta do século XVI, na sequência dos estragos provocados pelas cheias do Mondego, a comunidade foi, provisoriamente, transferida para um dormitório de localização desconhecida, enquanto decorria a construção das novas instalações (1543-1566) do Mosteiro e do Colégio na rua da Sofia. Em 9 de Fevereiro de 1543, Sebastião da Fonseca faz um auto de avaliação das propriedades que se tomaram em Coimbra, para se edificar o Mosteiro de S. Domingos e o Colégio de Santo Tomás onde se referem casas acabadas de Jorge Vaz em que esta ora o dito colegyo de Sam Domingos com a torre que também hee acabada e toda ha mais obra d’alvenaria e pedraria que tem feita e asemtada des a dita torre atee as casas do dito colegyo. Desta forma ficamos a saber que os colegiais estavam instalados em casas no próprio local onde decorriam os trabalhos de construção pois é dito que o Colégio de São Domingos estava nas referidas casas novas feitas por Jorge Vaz ao longo e à “face” da rua da Sofia, mas os frades deviam manter-se, ainda, no convento velho, até à sua demolição. A mudança para a rua da Sofia terá, assim, acontecido quando, em 1540, D. João III, temendo a derrocada, deu dinheiro para se construir uma nova casa, o que veio a acontecer em 1546, tresladação autorizada pelo Papa Paulo III. O Colégio ficou na rua da Sofia num sítio “menos mau” que o do Convento Velho, mas também alagadiço, dispondo de “uma cerca grande contra o rio”.

AHMC, Documentos Avulsos em Papel (1464-1826): nº 30 (1583); nº 129 (1663).

ANTT, Corpo Cronológico, 1ª parte: m. 68, doc. 104 (1540); m. 69, doc. 25 (1541); m. 73, doc. 53 (1543).

ANTT, Mosteiro de São Domingos de Coimbra, Livro das capelas e legados reduzidos, Livro da Fazenda (1732).

Anjinho, I. (2016). Fortificação de Coimbra: das origens à modernidade, em https://estudogeral.sib.uc.pt/jspui/handle/10316/31013.

Cacegas, Fr. L., & Sousa, Fr. L. (1866a). Primeira parte da história de S. Domingos. Particular do reino e conquistas de Portugal, I. Lisboa: Typographia Do Panorama.

Cacegas, Fr. L., & Sousa, Fr. L. (1866b). Terceira parte da história de S. Domingos. Particular do reino e conquistas de Portugal, IV. Lisboa: Typographia Do Panorama.

Cruz, A. (1964). Santa Cruz de Coimbra na cultura portuguesa da Idade Média, vol. I. Porto: Biblioteca Pública Municipal do Porto.

Dionísio, S. (1940). Guia de Portugal – Beira Litoral I. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.

Gomes, S. A. (2006). A igreja de S. Domingos de Coimbra em 1521. Arquivo Coimbrão, XXXIX.

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