A PORTA DO SOL E A PORTA DA TRAIÇÃO
Genicoca era a extensa área que ia da muralha da Couraça de Lisboa e Arco da Traição até à cerca do Seminário.
A porta designada “do Sol” remonta pelo menos ao século XI e sempre se supôs que fosse uma porta voltada para nascente.
Por esta razão e porque a "Porta do Castelo" ficava voltada para esse ponto cardeal (e até se tratava da porta que nem sequer tinha essa designação na planta de 1773, mas sim “Porta da Cidade” - 1ª imagem) seria a escolha lógica para o seu posicionamento, defendida por vários autores.
No entanto, se a torre de Menagem do Castelo pode ser atribuída ao período afonsino, não deixa de ser estranho as descrições dos geógrafos árabes dos sécs. XII, que descrevem pormenorizadamente a fortificação de Coimbra com três portas, não referirem nenhum castelo em Coimbra.
Mas poderia ter-se tratado simplesmente de uma omissão e o castelo ter sido precedido de um castro ou de alguma outra estrutura militar que reforçasse a defesa de uma zona que, pela sua configuração topográfica, era mais acessível e de onde se poderia perscrutar melhor o horizonte. Aí poderia ter existido uma porta voltada para nascente, que seria uma das três referidas e a designação de “Porta do Sol” faria sentido.
Existem, no entanto, hipóteses alternativas para o seu posicionamento, que poderão apontar para uma localização a sudeste, na Cerca de Almedina, onde se situava a Porta designada “da Traição” (2ª imagem). Até porque esta só se encontra documentada a partir do séc. XV, enquanto a Porta do Sol se encontra documentada nos sécs. XI, XII e XIII. É, assim, possível que se pudesse tratar da mesma Porta, razão porque as analisamos em conjunto.
Portanto, a Porta do Sol provavelmente existiria antes do Castelo, sendo que a sua identificação com uma porta nesta estrutura militar nunca passou, afinal, de uma suposição. É certo que podia ter sido utilizada uma antiga porta, a nascente, na edificação ou reedificação de um novo Castelo, mas a sua identificação terá sido feita, em grande parte, apenas por analogia com o nascer do sol. Vários documentos dos sécs. XI,XII e XIII a referem, mas quase todos sem elementos que ajudassem na sua identificação ou que sugiram tratar-se de uma das portas do Castelo.
Sabe-se simplesmente, por um dos documentos, que no séc. XIII se encontrava na extremidade de uma rua que saía dos Paços Reais, com sentido nascente-poente, mas a verdade é que só se partiu do princípio que a Porta dos Paços fosse no mesmo sítio da actual Porta Férrea, do lado nascente da Alcáçova, razão pela qual se pensava poder tratar-se de uma porta do Castelo.
Quando o estudo sobre a fortificação apontou outra hipótese de saída do Palácio real, a sul, e com fortes possibilidades de se tratar da porta principal até ao séc. XVI, esse facto levou a rever a questão do seu posicionamento.
(Capítulo 6.3.1. em https://estudogeral.sib.uc.pt/handle/10316/31013)
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