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Castelo de Coimbra - III

TORRE QUINÁRIA OU TORRE DE HÉRCULES



Na segunda metade do séc. XII e na primeira do XIII, as torres de menagem eram quadradas, situando-se normalmente isoladas no centro dos castelos, mas a partir de meados ou finais do séc. XIII passaram a construir-se adossadas às muralhas e até frequentemente nas esquinas, e a utilizar plantas pentagonais ou hexagonais.

A torre que D. Sancho acrescenta ao Castelo, isto é, a Torre Quinária edificada em 1198 (assinalada no desenho pombalino - 1ª imagem no final - e na maquete - 2ª imagem no final) bem como a semelhante quinária, erguida em Belcouce, assumiram grande protagonismo, uma vez que correspondiam a um tipo de torres que só meio século mais tarde se veio a vulgarizar.

A Torre Quinária construída no Castelo, era comummente designada, no séc. XVI, por “Torre de Hércules”, devido a uma inscrição existente no seu interior. Desta torre resta apenas a indicação que assinala a sua fundação por D. Sancho no ano de 1198 e sabe-se que era de "opus incertum", como referem os autores setecentistas, por oposição ao aparelho da Torre de Menagem, de cantaria lavrada.

Apesar de improvável, não é impossível a construção deste tipo de torres (quinárias) nesta cronologia (1198), dada a presença dos Templários em Coimbra, que até detinham os direitos na portagem da ponte e que trariam, certamente, para a capital do novo reino, e em primeira mão, novidades construtivas.

Existiu um certo paralelismo entre as duas torres quinárias (pentagonais), a do Castelo e a de Belcouce (1211), cuja construção se atribui também a D. Sancho I. E, a confirmar-se a hipótese de haver um castelo em Belcouce, que até podia ser templário uma vez que controlaria a ponte cujos direitos eram desta Ordem, as analogias não ficariam certamente por aqui.

O Doutor Manuel Pereira da Silva Leal, em 1723, descreve a Torre de Hércules dizendo: "tem as ameas quebradas e o caminho por onde se passava para a dita torre incapaz de se poder ir por elle, por estar arruinado e ameaçando ruina por muitas partes. Esta torre he altissima não só para a parte debaixo em que descae sobre hum monte muito inclinado, mas ainda para a de dentro do Castello e 2ª praça em que está situada; da cortina e muro se passava para a sua porta que tem no meio e em altura do chão de 120 palmos (26.4m), por huma baranda tambem quasi ruinada e sobre a porta bastantemente levantada esta a inscripção em huma pedra de 4 palmos de comprido e 2 de largo; a torre por dentro está velhae não tem a perfeição no edifício que tem a moderna [refere-se à Torre de Menagem, pois, apesar desta ser mais antiga, uma melhor qualidade na construção induzia em erros de cronologia]. Para ela se subia por uma escada de pedra lavrada que teria, com pouca diferença nove palmos de largo (1.98m), e vinte e cinco de alto (5.50m), sobre a qual estava a porta com a serventia para o norte. Logo ao entrar, sobre o lado direito, caminhando para poente, existia uma casa com duas frestas estreitas viradas para o norte. Sobre a mesma estava outra sala, mais clara e avantajada do que a fundeira, e pelo que dava a entender era onde assistia o governador do Castello, e sobretudo as ameias; e entre o sul e poente estava uma casa por modo de sepultura, toda de abobada de pedra de cantaria lavrada, e no cimo um buraco redondo; e pelo que mostrava era aonde se punha a bandeira…"

Já Joaquim da Silva Pereira, na Coimbra Gloriosa, atribui-lhe 22.88m de altura (104 palmos), referindo que "de alto e tão seguro estava que para se lançar abaixo foi preciso ir a fogo".

Para entrar na Torre de Hércules, existiriam duas portas: uma, com serventia para o norte, situava-se no patamar mais elevado de uma escada que ficava no topo nordeste e media cerca de 1.98m de largura e 5.50m de altura; e uma outra abria-se no ponto onde o adarve se encontrava com a Torre Quinária. Este troço de adarve não é aquele que, perpendicularmente, se ligava à Torre de Menagem (construído posteriormente), mas o que continuava para sudoeste, e ficava onde depois se construiu o Colégio dos Militares. É por isso que o adarve parece apresentar alturas diferentes, a nordeste da torre (mais baixo), e a sudoeste (mais alto).

A porta principal, onde estaria a inscrição, seria a das escadas; a outra faria a passagem para o adarve (“para as ameias”) a partir de uma sala onde “assistia o Governador”, “mais clara”, com mais luz. Do documento das obras de 1573 (ver CASTELO 5) consta também o que urgia fazer na Torre de Hércules.

Acredito que seria na Torre de Menagem e na Torre de Hércules) que se guardaria o erário régio (ou parte dele), pois apesar de o Mosteiro de Santa Cruz ter sido, também, o depositário dos dinheiros da coroa (durante algum tempo), o testamento de D. Sancho I, datado de 1210, refere-se aos dinheiros régios que se achavam "in turribus Colimbrie".

A demolição da Torre Quinária consumou-se em 1773/74, aquando da construção, depois interrompida, do observatório astronómico pombalino. O Catálogo do Instituto especifica mesmo a data de 19 de Novembro de 1774 para a conclusão dos trabalhos, após sete meses de obra.

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