UM ESTRANHO DESAPARECIMENTO
Um topónimo que é estranho não constar do Tombo de 1532, aparecendo só no de 1678, foi o de “couraça”.
Era difícil de compreender, uma vez que essa designação figurava já em 1194 numa carta de venda de parte de uma casa “no lugar chamado couraça junto ao rio Mondego”.
Mas, se a referência a “couraça” apenas figura nos tombos que se iniciam em 1678, acontece que nessa mesma data desaparece a menção à “Porta de Belcouce”, existente no tombo anterior (1532).
A Porta de Belcouce era uma das três portas da fortificação referidas pelos geógrafos árabes nos sécs. X, XI e inícios de XII.
A proximidade entre a porta e a couraça poderia apontar para que os assentos em causa fossem, afinal, os mesmos.
Contudo, quer esta suposição se confirme, ou não, a verdade é que, por algum motivo, a porta deixa de ser nomeada e começam a aparecer o topónimo “Estrela” e reaparece a referência a “couraça”.
Este sumiço leva a colocar a hipótese de a Porta de Belcouce ter desaparecido entre 1532 e 1678.
Sabemos que, em 1520, o estado da porta já seria ruinoso, dado que Pedro de Alpoim tenta aforar “uma torre muito danificada sobre a dita Porta de Belcouce”; contudo, ainda foi necessário aguardar alguns anos até que, em 1544, se iniciasse uma intervenção na referida estrutura, à época ainda a exercer a sua função.
Poder-se-á questionar se, 134 anos mais tarde, em 1678, quando o segundo Tombo começa a ser feito, a Porta de Belcouce já não estaria utilizável ou, inclusivamente, se já não existiria.
Também será exequível perguntar se esta alteração não se relacionará com o facto de ter sido neste período que, em Coimbra, o termo “couraça” deixou de designar um elemento de fortificação para passar a integrar o nome de uma rua.
Tentei perceber se a ausência de referências à Porta de Belcouce, existente na documentação, se poderá relacionar com o desaparecimento físico da dita porta e, em caso afirmativo, quais as circunstâncias em que tal se verificou.
(Cap. 6. 2. em https://estudogeral.sib.uc.pt/handle/10316/31013 )
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