PLANTAS POMBALINAS
As plantas pombalinas que representam, apenas, cerca de metade do castelo (séc. XVIII)
A existência de um castelo em Coimbra no tempo dos condes portucalenses é mais do que provável, muito embora questione se ele se situaria realmente na zona onde os investigadores normalmente o localizam, ou seja, no lado nascente da Cerca de Almedina, sensivelmente onde hoje se encontra a Praça D. Dinis e o edifício do Departamento de Matemática da Universidade de Coimbra. A existência de um outro castelo em Belcouce não passa, por enquanto, de uma hipótese mas, a confirmar-se, faria, provavelmente, a defesa da Ponte integrada no principal eixo viário norte-sul, cujos direitos pertenciam aos Templários.
O Castelo que deveria servir de reforço defensivo da entrada nascente da cidade esteve, ao longo dos tempos, minimamente registado no contexto da documentação escrita, régia e concelhia, e na icononímica do séc. XVIII, que deveria servir de base às reformas pombalinas da instituição universitária. Mas quando se procedeu à destruição do que dele restava, na década de quarenta do séc. XX, esta não foi acompanhada por nenhuma campanha arqueológica, nem mesmo por qualquer arqueólogo, facto que impediu o seu conhecimento seguro.
O Castelo medieval de Coimbra, numa posição avançada em relação ao pano de muralhas da Cerca, funcionava como um sistema defensivo onde se destacavam várias torres, duas delas particularmente importantes e emblemáticas: uma, erguia-se no extremo nascente, a “Torre Quinária”, pentagonal, dita “de Hércules”, dominando o recinto rectangular referido como “Castelo Velho”; a outra, mais recuada, a “Torre de Menagem”, ou “da Cisterna”, situada num outro recinto quadrangular apelidado de “Castelo Novo”.
Do Castelo conhecem-se, para além da planta pombalina, que deverá diferir da planta medieval original (de feição mais simples), várias descrições elaboradas a partir do séc. XVIII.
Em escavações levadas a cabo em 2008, verificou-se que ainda existe parte das fundações da Torre de Menagem do Castelo, o que seria previsível pois nas obras levadas a cabo aquando da construção da cidade universitária, em todos os pontos onde as cotas finais previam uma escavação, ela não ultrapassou os 0.30m abaixo do nível do projectado (exceptuam-se as zonas onde se previa a construção de imóveis). E, felizmente, quando se tratou de aterros sem edificações, o sub-solo terá ficado praticamente intocado desde que as novas cotas permitissem a instalação das infraestruturas. Há, assim, boas possibilidades de ainda se poderem vir a identificar, pelo menos, outras estruturas das fundações do Castelo.
Alguns desenhos pombalinos, nomeadamente duas cópias de uma planta realizada por Guilherme Elsden, em 1772, e determinados alçados, elaborados antes de se iniciarem, em 29 de Março de 1773, as demolições que precederam as obras pombalinas, ajudam-nos a perceber as descrições constantes da documentação escrita, apesar de ser necessário chamar a atenção para o facto de que, nesses desenhos, o que se denomina por “Castelo” poder corresponder apenas ao que restava do mesmo na época em que foram feitos.
Das duas plantas referidas, que são aparentemente iguais, uma encontra-se em Portugal (primeira imagem - na realidade são dois exemplares idênticos existentes no MNMC e na BGUC) e a outra (segunda imagem) integra o acervo da Fundação Biblioteca Nacional- Brasil. A suposição de que seriam idênticas e o desconhecimento da que se encontra no Brasil impossibilitou a sua comparação e o esclarecimento de alguns aspectos.
A brasileira, inserida no mais antigo dos dois álbuns datados, de 1772 e de 1773, parece mais elaborada, embora se encontre omissa a referência ao ponto cardeal “norte”. A não marcação deste elemento decorrerá talvez do facto implícito de se aceitarem as regras da cartografia que pressupõem o norte sempre no lado superior da folha, lendo-se as legendas e cotas de pavimento na horizontal e, a ser assim, a orientação está correcta.
No entanto, já as imagens portuguesas têm a marcação do ponto cardeal norte, talvez para permitir a sua apresentação numa posição diferente, parecendo menos cuidadas. Deverão ser posteriores, de 1777, possivelmente destinadas à consulta no decorrer dos trabalhos, mas a orientação não está correcta.
A planta arquivada na BNRJ será mais fidedigna e contém mais pormenores. O seu cotejamento com os exemplares portugueses podem interferir no desenho do Castelo, razão porque analisei cuidadosamente essas diferenças antes de propor uma reconstituição total do castelo medieval que teria sensivelmente o dobro da área que se encontra figurada nas plantas pombalinas.
Em resumo, poderá concluir-se que o desenho do Castelo, nas plantas existentes, referir-se-ia apenas a uma parte do Castelo e não ao todo. Conhecem-se três plantas do Castelo: duas em Portugal e uma no Brasil. As duas portuguesas são idênticas, mas a brasileira difere ligeiramente, sendo que essas diferenças esclarecem certas dúvidas, possibilitando uma melhor compreensão de alguns recintos originais do Castelo.
(Capítulo 8.1.e 8.1.1. em https://estudogeral.sib.uc.pt/handle/10316/31013)
Excelente trabalho de investigação.
Parabéns