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Arco Romano - I

Updated: Dec 2, 2019

Onde ficava o arco romano de Coimbra e que tipo de arco era?

D. Jerónimo de Mascarenhas, num manuscrito do séc. XVII, que a CMC põe em livro em 1956 com o título "História da Cidade de Coimbra", o autor refere o arco (p.47): "... Ser este Arco Triunfal, que hoje vemos em Coimbra, obra dos Romanos, não se pode duvidar, porque outros semelhantes a este descreve João Hermelário [...] e outros da mesma escultura traz Jacob Boisardo, na "Tipografia da Cidade de Roma", onde traz e pinta outro arco semelhante ao nosso, e em tudo a ele correspondente, com esta inscrição "Arcus Augusti Quadriformis"..."

Ora o livro citado por D. Jerónimo era do séc. XVI de Jean Jacques Boissard, com o título "Romanae urbis topographia et antiquitatum", e estava lá, de facto, a imagem de um "Arcus Augusti Quadriforis".

Devido ao erro que existiu na transcrição, quer no nome do autor, quer no da obra e até no do arco, não foi fácil encontrar este livro.

O posicionamento do arco, no topo de uma rampa que desde o rio conduziria directamente ao arco, relacionado com sua envolvente, apontaria, à partida, para um arco triunfal comemorativo imperial e não para uma porta.

"Os arcos eram decretados pelo Senado para memória das conquistas, triumphos e outros grandes acontecimentos políticos e militares, ou levantados por particulares para perpetuarem os seus nomes e servirem de ornato a algumas cidades e terras notáveis. E se durante a república a sua construcção era rude e singela, ordinariamente de tijolo ou alvenaria, tendo a forma semi circular, a que davam o nome de fornix. Mais tarde, particularmente no tempo dos imperadores, architectaram-nos de mármores e cantarias, formando-os de columnas e pilastras.... Construídos de fórma quadrangular, alguns d’estes tinham uma só passagem ou porta no centro... outros tinham três, sendo a do meio mais espaçosa . Quanto às portas, eram quase semelhante aos arcos, no estilo e luxo dos ornatos e respeitadas como cousas sanctas, e onde antiguamente se collocavam imagens de divindades, substituídas depois pelas dos Césares e imperadores".

Assim, parece segura a identificação do arco como sendo um elemento do período imperial, situado no cimo da rampa de acesso à urbe, em posição alcandorada e concentrando nele toda uma simbologia e monumentalidade que projectava a imagem da cidade para o exterior e evidenciava, ao mesmo tempo, a própria ordem do seu espaço interior. Mas a grande semelhança dos arcos com as portas repõe a dúvida acerca da sua função original, dúvida essa agravada pela sua possível introdução numa cortina de muro.

Filipe Simões, ao dizer que "só a função de porta urbana poderia ter motivado a construção de um monumento deste tipo, uma vez que se encontrava a meio de uma ladeira em que, nem parte do nascente, nem parte do poente, nem ainda da parte de sudoeste, se lhe poderia fazer praça por causa do grande declive da encosta", não estava a equacionar a hipótese de a subida ser feita outrora de outra forma, em virtude da topografia do local se poder ter alterado drasticamente devido à subida do rio e à consequente necessidade de cortes no terreno, obrigando a outas formas de acesso.

Assim, parece que as afirmações não deverão ser radicais, como o fez Paula Petiz, quando afirma que “será de eliminar a hipótese de ter existido um arco triunfal”, pois o engenho humano, muitas vezes, consegue alterar a envolvente natural, ultrapassando qualquer tipo de condicionalismos.

Por seu lado, D. Jerónimo de Mascarenhas, bipo de Segóvia, inclinava-se, como vimos, para a hipótese de ser um arco triunfal, referindo-o no séc. XVII.

Também a descrição de António Coelho Gasco, de 1666, está de acordo com a anterior, “este nobre edifício não he arco romano, como o povo commummente diz, senão trofeo, porque o fazião os Romanos com quatro arcos, como ele era, e o levantavão no lugar mais alto”.

Assim, há a possibilidade de se ter tratado de um arco triunfal, pois antes da existência das couraças abaluartadas a subida far-se-ia, talvez, perpendicularmente ao rio, como ilustra Hoefnagel, e o arco estaria em posição privilegiada, permitindo “fazer praça” .

Mas, sobretudo, a forma apresentada pelo referido arco no desenho quinhentista, com os quatro arcos laterais iguais, sem apontar uma determinada direcção, parece muito mais adequada a um monumento simbólico do que a uma porta. No entanto, a provável existência, documentada, de uma muralha na rua de Joaquim António de Aguiar [vide cap. 5.2.1.], sugere, na sua continuação e de acordo com as curvas de nível, uma ligação ao arco.

Esta ligação poderia ter sido mais tardia, isto é, o arco ter estado primeiramente isolado e só mais tarde se ter transformado numa torre e/ou porta, integrado num pano de barbacã que o absorveu.

Em suma, o arco romano poderá ter sido, num primeiro momento, um arco triunfal e só mais tarde torre e/ou porta de barbacã, mas não se dispõe de dados que permitam datar este momento.

(Anjinho, I. (2016). Fortificação de Coimbra... (Vol I Cap. 5.1).

)

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